Mesmo após sofrer queimadas e desmatamento, uma área degradada tem a capacidade de regeneração, de forma assistida, e integrar a floresta da Amazônia novamente.
Muitas vezes, basta suprimir a pressão da atividade que impede o ambiente florestal de se restaurar ao tornar o solo compactado, ácido e sem vida.
Esse é o princípio da Regeneração Natural Assistida (RNA), método de recuperação florestal incentivado pelo novo projeto “Catalisando e implementando a regeneração natural assistida em larga escala no Mato Grosso e Pará”.
A iniciativa é implementada desde outubro de 2020 pelo Instituto Centro de Vida (ICV) em parceria com WRI Brasil, Imazon e Suzano e tem financiamento da Norway’s International Climate and Forest Initiative (NICFI).
Ao fim das atividades, o projeto visa adoção e disseminação das técnicas de recuperação florestal em ao menos 260 mil hectares distribuídos entre municípios nos estados de Mato Grosso e Pará, todos localizados em uma região da Amazônia sob intensa pressão de desmatamento.
A TÉCNICA
O método de recuperação florestal tem o potencial de contribuir para a conservação da biodiversidade, aumento da produtividade e resiliência da agropecuária, bem-estar humano e mitigação das mudanças climáticas.
Como o nome diz, a regeneração natural assistida exige pouca intervenção humana e é baseada no processo natural de recuperação da floresta.
“O que é necessário fazer inicialmente é eliminar o agente degradante”, explica Eduardo Darvin, coordenador do Programa de Negócios Sociais do ICV e um dos coordenadores do projeto.
Ou seja, isolar áreas que sofrem com invasão de gado, utilização de maquinário, fogo, agrotóxico ou qualquer outro impacto que impeça o processo natural de reflorestamento.
Um dos principais benefícios do método são os baixos custos envolvidos.
Técnicas intervencionistas como plantios de árvores em projetos de restauro florestal exigem investimento de recursos físicos, naturais e humanos para devida implementação.
“Muitas vezes o produtor rural não tem essa energia, recurso financeiro ou mesmo interesse para fazer isso”, comenta Eduardo.
Além de propiciar maior engajamento dos produtores devido ao baixo custo para a regularização de áreas de passivos ambientais, o método é ferramenta importante no sequestro de carbono e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
Pesquisas recentes comprovam que a técnica tem grande potencial de absorver as emissões de gás carbono da atmosfera.
Se apresenta como alternativa essencial, ressalta o especialista, para que o Brasil cumpra com as metas estipuladas em tratados internacionais contra a crise climática.
“Muitas dessas metas não são cumpridas por causa desses entraves com a restauração”, diz.
MAPEAMENTO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS
Os resultados da regeneração natural assistida dependem prioritariamente do grau de degradação da área, definido por diferentes variáveis.
Uma área de pastagem degradada distante de fragmentos florestais, com solo compactado e alto nível de acidez, carrega baixo potencial de regeneração.
Na mesma lógica, um pasto localizado próximo a floresta conta com probabilidade maior de receber sementes carregadas pelo vento ou animais como pássaros, o que facilita o processo de regeneração.
Por isso o projeto irá traçar a potencialidade de regeneração de áreas degradadas no território de atuação para definir as áreas prioritárias onde serão implementados projetos-piloto da técnica.
Em Mato Grosso, o ICV realizou um levantamento prévio dos fatores que influenciam a regeneração natural e será validado em campo junto a grupos comunitários e produtores rurais da região, alguns com os quais a instituição já trabalha.
“Nós temos mapeado as áreas de preservação permanente, o histórico de uso da área, a proximidade de fragmentos florestais e os cursos d’água, e cruzaremos isso com as informações das comunidades e produtores rurais da região”, explica Vinícius Silgueiro, coordenador de Inteligência Territorial do ICV e um dos coordenadores do projeto.
Em campo e com uso de imagens obtidas por drone, as informações serão detalhadas e usadas para classificar as áreas em alto, médio ou baixo potencial de regeneração.
“Em conjunto com os produtores e produtoras, serão definidas quais as melhores áreas para implementarmos a regeneração natural assistida”, complementa o engenheiro florestal.
Os pacotes de técnicas desenvolvidos nos pilotos também serão subsidiados com informações previamente levantadas sobre casos de sucesso na implementação da RNA no estado de Mato Grosso.
Posteriormente, serão realizados monitoramento e avaliação constante dos projetos-piloto de forma participativa.
A ideia é engajar pela técnica os proprietários rurais para cumprimento do Código Florestal, o que será apoiado pela articulação com gestores públicos a fim de auxiliar na regularização ambiental das áreas que assumirem o compromisso formal de recuperar passivos ambientais.
“Também não é só cercamos a área e abandonarmos, será realizado um acompanhamento de todo processo para garantirmos os resultados”, conclui Eduardo.
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29OUT2019