Segundo a ONU, até 2030 será necessário investir um bilhão de hectares degradados de terra para restauração de ecossistemas
Por Nathan Fernandes Atualizado em 6 jul 2021, 13h09 – Publicado em 30 jun 2021, 09h25 – publicado em veja.abril.com.br
A restauração de ecossistemas do planeta é uma necessidade inevitável para conter o avanço da crise climática. Ainda em 2019, personalidades como a escritora Margaret Atwood, a ativista ambiental Greta Thunberg e o músico Brian Eno defenderam a necessidade de “retirar o dióxido de carbono do ar, protegendo e restaurando os ecossistemas”.
“Ao restaurar e restabelecer florestas, mangues, restingas e outros ecossistemas essenciais, grandes quantidades de carbono podem ser removidas do ar e armazenadas. Ao mesmo tempo, a proteção e a restauração desses ecossistemas podem ajudar a minimizar a sexta grande extinção e aumentar a resiliência das populações locais contra o desastre climático”, escreveram os ativistas.
Em 2020, foi a vez do Fórum Econômico Mundial sugerir uma iniciativa para recuperação do ecossistema. O projeto Trillion Trees une esforços internacionais para plantar um trilhão de árvores até 2030. Segundo os organizadores, as reduções de emissões de carbono do projeto podem representar até um terço da meta estabelecida no Acordo de Paris.
A fim de ajudar investidores a contribuírem com a causa, o instituto de pesquisa WRI criou uma plataforma beta para unir o setor privado a projetos de cultivo. O TerraMatch, que pode ser acessado em português, já transferiu recursos para iniciativas em nove países da África e da América Latina, envolvidas com as comunidades locais e atentas a estudos de impacto.
Uma das organizações beneficiadas é a AIDER, na Amazônia peruana, que já plantou mais de 300 mil árvores na Reserva Nacional Tambopata. O cultivo feito em fazendas de cacau fornece uma fonte de renda sustentável para mais de 10.000 pessoas.
“Somos inspirados pelo forte apoio de líderes corporativos que buscam levar seus fundos para a linha de frente. Com o TerraMatch, podemos acelerar a restauração da paisagem e garantir que ela seja feita da maneira certa”, afirmou Andrew Steer, Presidente e CEO da WRI, em um comunicado da empresa.
Além de armazenar carbono, manter a floresta em pé é essencial para proteger a biodiversidade do planeta, bem como suas fontes hídricas, garantindo o fluxo, inclusive, da economia, ao aumentar a produção agrícola e fornecer novas fontes de renda. Em Mukura, Ruanda, por exemplo, as mais de 40 mil árvores plantadas pela ONG local ARCOS, que trabalha com cooperativas lideradas por mulheres, ajudam a segurar encostas e terraços, impedindo a erosão e fornecendo uma fonte sustentável de madeira.
Em um relatório elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), no âmbito da Década das Nações Unidas para a Restauração dos Ecossistemas 2021-2030, lançado em junho, a ONU destacou que a humanidade está usando cerca de 1,6 vezes a quantidade de serviços que a natureza pode fornecer de forma sustentável.
A organização lembrou o compromisso dos países de restaurar, ainda nesta década, pelo menos, um bilhão de hectares degradados de terra — um tamanho equivalente à área da China. Ao garantir que os recursos cheguem aos projetos certos, iniciativas como a do WRI fazem com que bilhões e trilhões não pareçam tão distantes.